domingo, 24 de dezembro de 2017

Proposta para Ponte de D. Cosme, no Rio Douro

A cidade do Porto tem a baixa histórica congestionada. 
As guerras no Norte de África, os problemas políticos na Turquia, a confusão na Catalunha e as viagens de avião e os hosteis baratos têm alimentado o crescimento do turismo nas cidades portuguesas de que o Porto/Gaia é apenas um exemplo. Garantiu-me o meu amigo P.S. que até Valongo tem turistas!
Povinho aos magotes quer dizer reabilitação urbana para a reconversão das casas velhas, decrepitas e abandonadas em  locais de apoio aos turistas, actividade económica e animação generalizada sem qualquer mérito dos autarcas (que encontraram nas taxas turísticas a galinha dos ovos de ouro) ou do governo central.
Havendo muito turista, sem nada para fazer, com vontade de circular no espaço público, sem sossego no corpo, caminham em movimento aleatório à espera de encontrar alguma coisa nunca antes vista e que possa ser fotografada e contada para fazer roer de inveja os amigos que ficaram em casa, descansadinhos.
A baixa do Porto é cortada pelo Rio Douro e o turista, vendo de um lado que pouco ou nada há para ver, olhando para a outra margem, vem-lhe à esperança que é lá que está a tal pedra que o José Hermano Saraiva dizia ser do maior significado histórico para a humanidade:

"Foi aqui, nesta mesma pedra, neste mesmo sítio onde estou a pousar a minha mão, que D. Afonso Henriques se apoiou pelas 14 horas e 32 minutos do dia 13 de Setembro de 1127, a meio da Batalha do Courato e da Francesinha contra os mouros liderados pelo Zapussaqueno, num momento de vento e chuva miudinha, com perigo para a própria vida, para arrear o calhau.
Não fosse esse momento de enorme importância para a humanidade, hoje, em vez do courato, comíamos chamuças, em vez de francesinhas, comíamos kebabes e, em vez de coca-cola, bebíamos sumo de tomate."

Sempre segundo a lei do movimento browneano, isto é, andando como uma barata tonta, o turista volta e meia atravessa o Rio Douro pela Ponte Luís I, tanto pelo tabuleiro inferior (onde circulam carros) como pelo tabuleiro superior (onde circula o metro).
Além da esperança que vê na outra margem, a travessia per si já é uma atracção turística.
O ritual da subida das Escadas do Codeçal onde as gordas, logo na curva à direita, já perderam o fôlego e param curvadas com a mão apoiada no joelho, olham para trás para a Ponte Luís I, imaginando ser assim o "momento" com o Brad Pitt em cima delas. O chegar lá cima, ao fim dos 226 degraus, e virar à esquerda por um caminho todo porco e a cheira mal, a recordar o cheirinho da infância, dos tempos em que o povinho dormia com o penico debaixo da cama. Atravessar o Douro pelo tabuleiro superior com a esperança de poder dizer "quase fui trucidado pelo metro", carruagens que quase nunca passam. Subir à Serra do Pilar que, afinal, não é serra nenhuma, "Chama-se Serra do Pilar porque em tempos houve aqui um serração que o Infante Santo usou para construir os mastros das Naus que foram tomar Ceuta aos  infiéis sarracenos". Depois, descer pelas vielas de Gaia, a olhar para um lado e para o outro, na tentativa de encontrar as atracções turísticas que não existem para, finalmente, re-atravessar o rio pelo tabuleiro inferior de volta ao estado de barata tonta.

O problema destas travessias é que os passeios do tabuleiro inferior da ponte são muito estreitos, um metrito, o que causa problemas de segurança aos peregrinos e congestionamento aos automobilistas. Por causa disso, os autarcas do Porto e de Gaia reuniram-se e apontaram a ideia de que há necessidade de construir uma ponte a conta baixa entre a Ponte Luís I e a Ponte do Infante.
Este poste serve para apresentar a minha proposta de arquitectura.

O teste da foto.
O turismo é um negócio que favorece as pessoas das terriolas. Então, quando o artista  projecta uma obra  não pode pensar apenas na funcionalidade directa nem na minimização dos custos pois a obra tem uma funcionalidade indirecta que é chamar turistas.
A coisa até pode não servir directamente para nada, como a Torre Eiffel ou as Pirâmides do Egipto, mas tem que ser uma atracção turística!
Desta forma, para começar, o artista vai ter que responder a duas simples questões filosóficas:

Questão 1: Será que alguém no seu juízo perfeito vai tirar uma selfie com esta merda como fundo?
Questão 2: Será possível identificar o local por esta merda estar como fundo da selfie?

O meu emprego.
É num edifício que os parolos meus colegas (notar que parolo apenas quer dizer que não têm formação estética nem gosto estético sofisticado) acham ser de grande valia arquitectónica.
O problema é que chumba o teste da selfie, nunca lá foi visto nenhum turista a tirar selfies!

Vamos à minha proposta.
Existem 665 m entre a Ponte de Luís I e a Ponte do Infante. A localização que proponho é a meia distância, no ponto em que a Serra do Pilar é mais elevada, com distância suficiente para a ponte se individualizar pois prevejo que se vai tornar a maior atracção Porto.
O mais barato seria uma ponte de betão igual à Ponte do Infante mas, como nunca vi ninguém fotografar tal ponte, eu quero uma coisa diferente, algo nunca visto em mais parte nenhuma do mundo.
Depois de muito pensar, a minha proposta é uma ponte metálica suspensa por dois cabos de aço.
Claro que vão dizer "Mas isso já é por demais conhecido e visto, temos a ponte sobre o Tejo e milhars de outras pontes espalhadas pelo mundo."
Mas eu estou a pensar algo diferente, algo assimétrico, sem pilares e com os cabos ancorados directamente no maciço rochoso das Fontainhas / Guindais (à cota 43m) e da Serra do Pilar (à cota 88m).
Fig. 1 - Vista lateral da nova ponte sobre o Douro, a Ponte de D. Cosme.

Pegando em todas as fotografias tiradas pelos turistas por esse mundo fora, milhares e milhares de milhões de milhões, não existe nenhuma que se assemelhe à minha proposta pelo que será, com  toda a certeza, uma atracção turística capaz de identificar o local de forma única. Quem vir uma selfie com isto, já sabe onde foi tirada. Dirão "You have been in D. Cosme Bridge"

Em planta.
Do lado de Gaia, o acesso à ponte será pelas Caves Burmester que serão destruídas (ver Fig. 2) e, depois, para não destruir a escarpa que vai até ao rio (ver, Fig. 3), passa para cima da água e faz uma curva à esquerda (ver, Fig. 4).
Do lado do Porto, a D. Cosme encosta a 90.º à Av. do Gustavo Eiffel (ver, Fig. 4).

Fig. 2 - Mesmo no sítio onde estão as Caves Burmester (que mudem para outro sítio).
Aquela foto da mulher nua, está mesmo no google street, podem confirmar!

Fig. 3 - Vista da Escarpa da Serra do Pilar com o local de amarração dos cabos (cruzes vermelhas) e "encosto" da Ponte de D. Cosme (traço vermelho).


Fig. 4 - Vista em planta da localização da Ponte de D. Cosme (a vermelho) e dos cabos (a preto).

Ainda falta uma atracção turística.
Ao contrário do que pensa o Sr. Presidente da Câmara, não é preciso meter elevadores na baixa do Porto porque o turista gosta de subir e descer escadarias para ocupar o tempo.
Querem saber quantas pessoas, por ano, sobem no elevador que vai da Ribeira para a Sé?
Zero, nem uma para amostra (aquilo até está fechado).
E no funicular dos Guindais?
Eu passo lá muitas vezes e vão meia dúzia de pessoas, de vez em quando, muito raramente.
Então, a boa atracção turística é o cabo ser uma ponte pedonal a ligar os Guindais à Serra do Pilar, o cabo a abanar, quase com perigo de vida, uma subida difícil, alguns lugar com 30% de inclinação, óptimo lugar para tirar selfies únicas.

O perfil transversal.
Proponho um perfil com 12 metros, dois passeios de 2,2m  e duas faixas de rodagem de 3.75m e, quando à ponte pedonal, proponho 3m (ver, Fig. 5).

Fig. 5 - Corte transversal da ponte onde os cabos mais se aproximam do tabuleiro.

Uma nota sobre o nome das cidades do Porto e de Gaia.
É senso comum que, no antigamente, Porto e Gaia eram a mesma cidade que se chamavam Portus Cale mas isso não corresponde ao consenso histórico.
Quando vieram os romanos chegaram à região norte-litoral da Península Ibérica, puseram o nome de Gallaecia a toda a região a norte do Rio Vouga. Cale talvez fosse o nome da deusa mãe dos celta ou o termo usado pelos grego para dizer que a terra era bonita (ver). O certo é que, na altura da chegada dos romanos, a região era muito pouco povoada, a actual cidade do Porto não teria mais de 100 habitantes,  situação que piorou aquando da reconquista (havia constantes incursões ora para matar todos os sarracenos, ora para matar todos os cristãos que se aventuravam nesta terra de atrito entre cristãos a norte e sarracenos a sul).
Com achegada dos romanos, como a sua economia era carregar coisas (madeira, minerais, peixe e carne salgados, cereais e escravos) em barcos para levar para Roma, não havendo estradas, foi construído um porto fluvial/marítimo na Ribeira da Vila no que é hoje a Praça da Ribeira.
Esse porto, naturalmente, era conhecido pelos romanos como o Porto de Cale.
Portus deu origem a Porto e Cale a Gaia.
No Sec. IX, foi re-utilizado o termo Portus Cale para separar o condado da Galiza (na parte norte da Galécia)  do condado que se formou a sul, com as terras conquistadas por Vímara Peresa os mouros.

Fig. 6 - Nesta selfie, quando a menina tirar o braço, vê-se a Ponte de D. Cosme, a maior atracção turística da Península Ibérica e arredores.

Fig. 7 - O que dirá à entrada da ponte para turista ver.

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